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Raiva

Mark Flapan

Extraído de: Por que Sofrer Emocionalmente Mais do que o Necessário?

Com exceção, talvez do medo, a raiva afeta o corpo humano mais do que qualquer outra emoção, e deveria receber o rótulo "Prejudicial à sua saúde". Da mesma maneira, a raiva afeta as relações humanas mais do que qualquer outra emoção, e deveria receber o rótulo "Prejudicial ao seu bem-estar social".
A raiva tem um custo tanto para o corpo humano quanto para as relações humanas, ainda que você não tenha qualquer doença crônica. Entretanto, havendo uma doença crônica, você tem uma necessidade maior do que seu corpo trabalhe seu favor, e você precisa mais de relações de apoio, tanto com membros da família quanto com seus amigos. Portanto, de qualquer ponto de vista, expor-se o mínimo possível a situações de raiva em sua vida significa um benefício para você. Neste artigo, vou sugerir maneiras para que você possa compreender-se a si mesmo, e para que você se relacione com outras pessoas, de modo a ajudá-lo a reduzir as manifestações de raiva.

Você tem raiva de si mesmo. Quando você tem uma doença crônica, existem mais coisas que vão deixá-lo irritado do que se você estivesse bem e saudável. Você pode ficar irritado quando se sente frustrado por enfrentar tarefas difíceis ou impossíveis para você realizar - tarefas que qualquer outra pessoa realizaria sem maiores dificuldades. Você não fica irritado apenas com o objeto de sua frustração, mas você também fica com raiva de si mesmo. Se outra pessoa ficasse com raiva de você pelo mesmo motivo, você não se importaria - mas você se importa por você mesmo. Você se importa porque você acha que deveria ser capaz de fazer tudo aquilo que você precisa fazer - com ou sem doença.
Em outras palavras, quando você não pode fazer as coisas como você acha que "deveria" fazer, você fica com raiva de si mesmo. Porém, se você pudesse deixar de lado essas expectativas, você estaria mais predisposto a aceitar as limitações impostas por sua doença. Sem dúvida, o fato de aceitar suas limitações não vai tornar a realização de suas tarefas fisicamente mais fácil, mas certamente vai torná-la emocionalmente mais fácil. Dessa forma, você não vai mais repreender-se a si mesmo com raiva diante de alguma tarefa difícil, mas, ao contrário, você será mais paciente consigo mesmo.

Amigos e parentes não entendem. Você pode ficar irritado com amigos e parentes que não se mostram tão sensíveis aos seus sentimentos como você acha que deveriam. Mas por que eles deveriam ser tão sensíveis assim aos seus sentimentos? Como eles poderiam entender o que significa viver com uma doença crônica? Não são eles que têm a doença - é você.
Para você, pode ser difícil admitir que pessoas saudáveis e fisicamente capazes não saibam se relacionar com alguém que apresenta uma doença crônica. Para elas, é difícil entender algo que nunca experimentaram. Portanto, mesmo com a melhor das intenções, elas vão dizer e fazer coisas que irritam você.

Os membros da família não fazem as coisas da maneira certa. Amigos e parentes são uma coisa, mas a família direta já é diferente. Na maior parte das vezes, você sente raiva das pessoas que você mais precisa e das quais mais depende - sua esposa, seus filhos adolescentes ou adultos, ou outros familiares próximos. Você não sente raiva deles apenas pelo que eles deixam de fazer por você, mas mais freqüentemente, você sente raiva deles pelo que eles fazem, e pela maneira pela qual eles fazem.
Mesmo com boa intenção, provavelmente ninguém fará as coisas por você exatamente da maneira como você mesmo faria, principalmente quando se trata de seus cuidados pessoais. Além do mais, provavelmente ninguém fará as coisas por você tão depressa quanto você mesmo faria. Eles podem até mesmo esquecer de fazer certas coisas.
Se você quer viver sentindo menos raiva de si mesmo, você também precisa aliviar as expectativas com relação a si mesmo. Isto requer que você torne a doença, e as limitações decorrentes dela, uma parte aceitável da pessoa que você é, e não algo inaceitável. Em outras palavras, você precisa desenvolver uma identidade aceitável como "uma pessoa com doença".
Se você parar de pensar nisso, será mais do que suficiente fazer o melhor que puder e ser o melhor que puder, e você não deveria se cobrar nada além disso - com ou sem uma doença crônica. E, como benefício adicional por aceitar suas próprias limitações, você será também mais tolerante com relação às "imperfeições" das outras pessoas. Em outras palavras, quanto mais você puder aceitar-se a si mesmo pelo que você é, tanto mais você aceitará as outras pessoas pelo que elas são. É assim que funciona.

Suscetibilidades feridas podem estar por trás de sua raiva. Você fica irritado com outras pessoas - principalmente membros da família e amigos - não apenas porque elas não agem com relação a você da maneira que você acha que deveriam agir, mas porque elas magoam seus sentimentos. Você pode minimizar suscetibilidades feridas se tiver uma compreensão mais completa da maneira pela qual sua doença afeta a outras pessoas, e se puder ajudar as outras pessoas a entender de que maneira sua doença afeta você, principalmente do ponto de vista emocional. Desta maneira, você estaria também controlando sua irritação em todas as situações geradas por suscetibilidades feridas.

Entretanto, há outros recursos para aliviar a raiva provocada por suscetibilidades feridas. Para isso, é preciso que você tenha consciência não só do sentimento de raiva, mas também do fato de ter suscetibilidades feridas, o que nem sempre acontece. Por um lado, a raiva tende a encobrir suscetibilidades feridas. Por outro lado, a raiva leva você a centrar sua atenção na outra pessoa - o que ela fez ou deixou de fazer - enquanto suscetibilidades feridas exigem que você centre sua atenção sobre si mesmo - o que você precisa mas não conseguiu. Além disso, quando você está irritado, você se sente moralmente justificado, mas quando está magoado, você se sente dependente e vulnerável.
Portanto, você está mais predisposto a admitir a raiva do que mágoa, porque isto faz você se sentir melhor com relação a si mesmo. Isto se aplica particularmente para homens que entendem a raiva como manifestação de força, e a mágoa como manifestação de fraqueza.

Porém, o fato de revelar seus sentimentos feridos, ao invés de apenas manifestar sua raiva, permitirá que você melhore suas relações com a outra pessoa. Acusar alguém num momento de raiva revela, com muita freqüência, uma resposta defensiva ou irritada, enquanto que admitir sentimentos feridos normalmente traduz uma resposta mais agradável e cuidadosa. Isto ocorre porque, independentemente do que levou a pessoa a dizer o que disse, ou a fazer o que fez, é muito pouco provável que ela tivesse intenção de magoar você.

Há outra vantagem em reconhecer suscetibilidades feridas. Quando você está com raiva, ainda que você não a manifeste, você responsabiliza a outra pessoa pelos seus sentimentos. Porém, quando você admite que está magoado, ainda que apenas para si mesmo, é mais fácil para você assumir a responsabilidade pelo que está sentindo. Isto ocorre porque, quando você admite seus sentimentos feridos, você está em condições de reconhecer o que está por trás de sua mágoa e de sua raiva, que são as suas próprias necessidades não atendidas de consideração, compreensão ou solidariedade.
Quando você assume a responsabilidade por seus sentimentos, você passa a não depender apenas das mudanças de atitude da outra pessoa para poder se sentir melhor. Você pode se sentir melhor mudando suas próprias expectativas com relação ao que a outra pessoa deve dizer ou fazer para satisfazer você. Isto é importante porque as suas expectativas estão mais sob seu controle do que o comportamento das outras pessoas.

O responsável pelo comportamento que o irrita pode ser você mesmo. Há ainda outras maneiras pelas quais você pode melhorara as relações com a pessoa que irrita você. É possível que, de alguma maneira, você deixe a pessoa tão transtornada que ela aja de modo a deixar você irritado. Talvez você não esteja fazendo tudo o que pode para se sentir melhor, tanto física quanto emocionalmente. Talvez você esteja solicitando que as pessoas façam coisas para você que você poderia fazer sozinho, ou talvez você esteja esperando que as pessoas leiam seus pensamentos. Talvez você esteja conseguindo demonstrar sua gratidão, provocando ressentimentos nas outras pessoas.
Se você for capaz de melhorar a sua própria compreensão com relação à maneira pela qual você se relaciona com as outras pessoas, e se puder orientar ou modificar seu comportamento adequadamente, você poderá conseguir que as pessoas respondam de acordo com suas expectativas. Será que não vale a pena compreender-se melhor para viver menos irritado?

Quando você assume a responsabilidade por seus sentimentos, você passa a não depender apenas das mudanças de atitude da outra pessoa para poder se sentir melhor.

O responsável pelo comportamento que o irrita pode ser você mesmo.
Com exceção, talvez do medo, a raiva afeta o corpo humano mais do que qualquer outra emoção, e deveria receber o rótulo "PREJUDICIAL À SUA SAÚDE".

 

Mark Flapan, Ph.D. sofre de dermatosclerose. É o fundador Scleroderma Federation of the Tri-state Area. É psicólogo, com interesse especial nos efeitos emocionais das doenças crônicas, tanto sobre o paciente quanto sobre os membros da família.


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© Associação Brasileira dos Portadores de Distorias, 2001


 
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