Dr. Hélio A . G. Teive

Professor Assistente de Neurologia da Universidade Federal do Paraná.
Coordenador da Residência e do Setor de Distúrbios do Movimento, do Hospital de Ciências da UFPR.
Secretário do grupo de trabalho de Distúrbios do Movimento da Academia Brasileira de Neurologia e colaborador da ABPD.

O que é distonia?
R. Distonia é um distúrbio do movimento caracterizado pela presença de contrações musculares mantidas, freqüentemente causando torções, movimentos repetitivos ou posturas anormais.

Por que ocorrem as distonias?
R. As distonias surgem em decorrência de uma disfunção do sistema motor, particularmente da região dos gânglios ou núcleos da base. O resultado final desta disfunção é um processo de co-ativação simultânea de músculos agonistas e antagonistas, provocando a distonia.

Como é feito o diagnóstico de distonia?
R. O diagnóstico de distonia é realizado pelo exame clínico neurológico.

Existe algum fator hereditário?
R. Sim. Na atualidade os fatores genéticos e hereditários tem sido muito estudados. Nas formas ditas primárias ou idiopáticas, já são conhecidos cerca de 11 tipos genéticos de distonias. Nas formas secundárias, naturalmente existem também várias doenças neurológicas, com causas genéticas definidas.

Qual a relação das distonias com problemas emocionais?
R. Existem raros casos de distonias ditas psicogênicas. Na maior parte dos casos de distonias os fatores emocionais representam importante fator associado de piora do quadro.

Pode-se adquirir a doença por causa do trabalho?
R. Existe uma grande confusão sobre o tema distonia e a LER (lesão por esforços repetitivos), agora definida como DORT (distúrbios oesteomusculares relacionados ao trabalho). Na verdade a LER ou DORT não está associada ao aparecimento de distonias. Contudo, no grupo das distonias secundárias, existem casos relacionados ao trauma, do sistema nervoso central ou periférico, e desta forma poder-se-ia associar trauma e determinados tipos de trabalho.

O uso de tranqüilizantes ou medicações contra náusea, que bloqueiam a dopamina (substância química presente no cérebro), são causas importantes de distonia. Cite-nos exemplos de produtos farmacêuticos que podem ter a distonia como efeito colateral.
R. No grupo de distonias secundárias, decorrentes do uso de drogas, pode-se relacionar : o uso de neurolépticos (haloperidol, clorpromazina, pimozida, tioridazida, risperidona), a metoclopramida, e eventualmente a flunarizina e a cinarizina.

A distonia pode desaparecer por algum tempo e depois voltar?
R. Sim. Em algumas formas de distonia, como as focais, isto pode ocorrer. Existem casos de blefaroespasmo e também de distonia cervical, do tipo torcicolo.

Procedimentos fisioterápicos, massagens, acupuntura, ajudam no tratamento?
R. Pode-se dizer que de forma geral, estes procedimentos podem ajudar o tratamento das distonias, com relação à dor e para o relaxamento muscular.

A toxina botulínica tem trazido bons resultados?
R. A toxina botulínica representa uma terapêutica excelente para as distonias focais, particularmente o blefaroespasmo, as distonias cervicais (torcicolo), a distonia de laringe, a distonia oro-mandíbular, e as distonias focais dos membros superiores (câimbra do escrivão) e inferiores.

Fale da importância do eletromiograma para a aplicação do Botox?
R. Em determinados tipos de distonias focais a utilização da eletromiografia pode ser um exame complementar de grande importância, como por exemplo, na distonia cervical, com componente misto (retrocolo, associado a laterocolo, ou torcicolo), para aplicação em músculos mais profundos como, por exemplo, o semi-espinhoso. Outro exemplo seria na seleção de músculos para uso de toxina botulínica nas distonias focais dos membros superiores e inferiores.

Existem contra-indicações ao uso do Botox?
R. Sim raras, mas não absolutas. A presença de miastenia grave e a esclerose lateral amiotrófica são consideradas contra-indicações, contudo, existem relatos de uso da toxina botulínica em alguns pacientes com estas enfermidades, sem quaisquer complicações. A gestação e o uso concomitante de antibióticos do grupo dos aminoglicosídeos são outras contra-indicações.

Descreva qual a melhora do paciente após a aplicação da toxina botulínica.
R. De uma forma geral os efeitos aparecem após 3 a 5 dias, estabilizando-se após 7 a 15 dias. Os resultados são variáveis, dependendo do tipo de distonia, sendo melhores nos casos de blefaroespasmo (90- 100%) e distonias cervicais (70-90 %).

Por que injeções repetidas de toxina botulínica vão perdendo o efeito?
R. Na verdade sabe-se que injeções com doses acima de 300 unidades, em intervalos inferiores a 3 meses, podem induzir a formação de anticorpos, em alguns pacientes, diminuindo desta forma a eficácia terapêutica da toxina botulínica.

O tratamento para as distonias primárias e secundárias como é feito?
R. O que define o tratamento das distonias é o fato de serem focais, segmentares, generalizadas ou do tipo hemi-distonias. Para as formas focais e mesmo as segmentares a toxina botulínica é o tratamento mais efetivo. Nas hemi-distonias o tratamento cirúrgico é o mais indicado (palidotomia, talamotomia). Nas formas generalizadas existem uma série de fármacos disponíveis, contudo, de uma forma geral, os resultados do tratamento clínico não são muito eficazes.

Quais os medicamentos mais usados e eficazes para o tratamento das distonias generalizadas?
R. Em primeiro lugar todas as distonias generalizadas, particularmente com início nos membros inferiores, que se iniciam no período da infância/adolescência, devem sempre ser tratadas com levodopa. Esta alternativa terapêutica deve-se ao fato de existir a distonia responsiva a levodopa, que como diz o nome tem reposta excelente ao uso de levodopa. Outros tratamentos possíveis são os anticolinérgicos (em altas doses), a tetrabenazina, diazepínicos, o baclofen (por via oral ou intra-tecal) e eventualmente o uso de dia neurolépticos, como a pimozida.

De que maneira o sono influi nos movimentos anormais?
R. De um modo geral todos os distúrbios do movimento (com algumas exceções) melhoram ou desaparecem durante o período do sono.

Existe algum tipo de terapia gênica para o tratamento de distonia?
R. No momento, apesar dos inúmeros estudos realizados, ainda não dispomos da terapia gênica para as distonias.

O Brasil possui grupos de pesquisa em distonia?
R. Sim. Atualmente existem vários grupos no Brasil, envolvidos na pesquisa e no tratamento das distonias, como os existentes em São Paulo (HC-USP, UNIFESP, HSESP, HIAA, USP-RP, UNICAMP), no Rio de Janeiro (UFRJ, UFF, UERJ, HSERJ), em Minas Gerais (UFMG), no Paraná ( UFPR, UEL), no Ceará (UFC), no Rio Grande do Sul (UFRS), em Santa Catarina (HSESC), no Distrito Federal (HBDF), em Goiás (UFG) e em Pernambuco (UFP).

Qual a importância na criação de grupos de apoio, inclusive com o envolvimento de familiares, a fim de manter atividades de integração social profissional dos portadores de distonias?
R. A importância da criação de grupos de apoio é muito grande, pois permite a integração dos portadores de distonias, facilita a veiculação de novas informações científicas aos pacientes, particularmente com referência ao tratamento.

Do ponto de vista da pesquisa médica, congressos de Neurologistas trazem algum avanço para melhorar a qualidade de vida dos portadores de distonias?
R. Sim, sem sombra de dúvida. Ë através destes eventos que os pacientes portadores de distonias podem obter melhores resultados no seu tratamento.

Existe estatística mundial para sabermos os números dos portadores de distonias?
R. Sim. Estima-se que devam existir 2 casos de distonia generalizada, por 1 milhão de pessoas, ao ano, e cerca de 24 casos por milhão, ao ano, para as formas focais. Quanto à prevalência estima-se que existem 3.4 casos em 100.000 pessoas para as formas de distonia generalizadas e 30 em 100.000 pessoas, para as formas focais.


Dr. Hélio A . G. Teive
Professor Assistente de Neurologia da Universidade Federal do Paraná.
Coordenador da Residência e do Setor de Distúrbios do Movimento, do Hospital de Ciências da UFPR.
Secretário do grupo de trabalho de Distúrbios do Movimento da Academia Brasileira de Neurologia e colaborador da ABPD.